Depois de muita espera o cenário das eleições em Florianópolis está praticamente fechado. O balanço que se pode fazer após as convenções é que não é possível apontar favoritos com total certeza. O pleito de 2008 é, certamente, o mais imprevisível da história da capital catarinense.
Tradicionalmente, a cidade sempre teve dois pólos, duas forças hegemônicas. O único resultado surpreendente foi a chegada da esquerda ao poder, com Sérgio Grando e Afrânio Boppré, entre 1993 e 1997. Há quem diga que a eleição deste ano será outra vez polarizada, entre o prefeito Dário Berger (PMDB) e Esperidião Amin (PP), cujos partidos são representantes das oligarquias que sempre controlaram o município.
O primeiro por ter a "máquina na mão" e o apoio do governador Luiz Henrique da Silveira, também do PMDB e rival eterno de Amin. O segundo, por sua história, pelas duas vezes que foi prefeito e outras duas que governou o Estado. É a liderança do momento contra um líder histórico. Mas concordo mais com aqueles que vêem nos chamados emergentes como um fator que pode jogar água na teoria da bipolaridade.
César Sousa Júnior, deputado estadual de primeiro mandato, pode até não ter experiência política ainda. Mas tem berço. Filho de um carismático ex-deputado e apresentador de TV, mantém um programa diário em uma rádio, age, como seu progenitor, para agradar diretamente às classes de menor poder aquisitivo. Puro assistencialismo, dizem os rivais. Não importa. Isso funciona na hora de ganhar votos.
Seu partido, o DEM, obviamente, aposta suas fichas na candidatura de César Júnior. Na convenção do último domingo o clima era de convenção nos Estados Unidos. Foi, de longe, a mais luxuosa de todas. Reflexo talvez, da viagem do senador Raimundo Colombo, líder da sigla em Santa Catarina, aos Estados Unidos, onde acompanhou eventos semelhantes dos Democratas de lá. Colombo retornou empolgado e impressionado com os discursos de Barack Obama e a estrutura das prévias.
Além disso, César Júnior tem Walter da Luz como vice. Um dos vereadores mais carismáticos da cidade, ele é do PSDB e os tucanos querem Florianópolis há tempos. Ainda mais que 2010 vem aí e quem ganhar a prefeitura da Capital tem uma vantagem a mais para as eleições ao governo estadual.
A esquerda alega que o nome dos democratas não é renovação, pois representa uma das legendas hegemônicas da direita. Este argumento, com toda a certeza, será repetido durante a campanha do petista Nildomar Freire, o Nildão, e de Angela Albino (PC do B). Estas duas candidaturas entram na briga cometendo um erro: não estarão unidos. A força que teriam se estivessem lado a lado, e trazendo PV e PDT, com quem coligaram, seria muito maior. O PT vai apostar no fato de, pela primeira vez, estar unido internamente. Todas as correntes do partido viram no ex-vereador Nildão o nome que nunca os consolidou até hoje. O PC do B, ainda uma sigla de poucas dimensões por aqui, terá no carisma, na inteligência e no bom desempenho de Angela Albino na Câmara (e nas pesquisas eleitorais) a grande chance de se firmar.
Com todo o respeito, o PSOL de Afrânio Boppré e o PTC de Elpídio Neves têm poucas chances de chegar ao segundo turno. Porém, serão de importância no segundo e decisivo turno. Agora, quem se arrisca a apontar quais candidatos vão para o embate final? Berger já fala até nas obras do PAC no Maciço do Morro da Cruz como uma conquista da sua gestão. "Mas o povo sabe quem é que liberou o PAC para Florianópolis", me disse a senadora Ideli Salvati no ato que, na última segunda-feira, selou a coligação do PT com o PV, sigla que mais cresceu em Florianópolis no ano passado e obteve uma expressiva votação na eleição anterior. A perspectiva de uma parceria ainda mais forte com o governo federal, é claro, vai ser um dos nortes no discurso de Nildão.
Enquanto isso, Angela Albino e o mesmo PT vão se pronunciar como a chance de renovação. César Júnior deve apostar no fator "juventude" e na presença dos tradicionais nomes do DEM: Colombo, Jorge e Paulinho Bornhausen, além de outros democratas que despontam no País, como Rodrigo Maia.
E depois da famigerada Operação Moeda Verde, não há um candidato que não fale em desenvolvimento sustentável. A começar pelo prefeito, que foi inicialmente acusado no escândalo e depois absolvido. Não por acaso, seu vice é João Batista Nunes (PR), idealizador do projeto do Defeso da Bacia do Itacorubi, que prevê a proibição de novas construções nos bairros da região até a conclusão do novo Plano Diretor.
É o samba do manezinho doido, não resta dúvida. Muitos elementos e possibilidades. A partir de agora, quando a campanha ganha corpo e vai às ruas, muitas outras variáveis vão se somar ao cenário. Creio que falar em favoritos com alguma chance de acertar só lá por meados de setembro.
2 comentários:
Pois pela primeira vez, nos dez anos em que voto em Florianópolis, sinto-me sem candidato. A renovação - em que sempre apostei - parece-me meio capenga, tanto com Nildão (boa gente) como com a gatíssima Ângela. César Souza Jr. até pode trazer a idéia do novo, mas votar nos "demos" nem debaixo de tortura!!! Dário e Amin? Acho que a coisa vai por aí, infelizmente. Resta saber qual dos dois as moscas vão sobrevoar a partir do ano que vem.
Se fosse para apostar, hoje, colocaria minhas fichas no Amin no 1° turno, mas com vitória do Dário no 2°. O prefeito tem enchido a cidade de obras e não deve ser subestimado. Se passar ao 2° turno, atrairá o apoio do DEM e PSDB, parceiros no governo do Estado. Amin só conta com ele mesmo. A cidade cresceu muito desde que ele se elegeu pela última vez à prefeitura, em 1988. E apesar de tido como uma raposa política, conseguiu a proeza de perder uma reeleição ao governo, em 1998. Os não-nativos já são maioria e Amin não tem mais tantos votos cativos. Mas as chances do Amin aumentam se o Cesinha Souza tirar o Dário do 2° turno. Angela Albino deve fazer uma votação significativa, mas não acredito que chegue perto do 2° turno. O PT nunca consegui ter expressão na cidade, periga fazer menos votos que o PSOL, que pelo menos tem um ex-deputado estadual e ex-vice-prefeito como candidato.
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