segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Escritor ou repórter?

"Quem cruza a ponte Pedro Ivo Campos e vê a ilha crescendo diante dos olho, não imagina sobre o que exatamente está pisando. Não ocorre a ninguém que, sob aquele um quilômetro e meio coberto por três camadas asfálticas, trinta metros acima do mar, há muito mais do que apenas cabos, dutos e sapatas. Naquele espaço entre o topo das pilastras de sustentação e as quatro pistas expressas que desembocam na ilha, pulsa um coração. Ou melhor, vários corações.
Tal como uma variada e às vezes indesejável flora intestinal, o arcabouço que sustenta a Pedro Ivo virou um imenso albergue para desqualificados, excluídos marginais, em geral. De nada adiantam portões de ferro, cadeados reforçados e grades com uma polegada de diâmetro, separando os compartimentos do esqueleto, para coibir a invasão. Não há obstáculo que desencoraje um miserável sem-teto a ocupar uma cobertura daquelas, com vista para a baía Sul e esplêndida localização. E o que é melhor: de graça, o que por si só compensaria o incômodo do trânsito barulhento e do vento que circula sibilante pelas frestas".

Os dois parágrafos acima são um trecho de "As Covas Gêmeas", romance policial cuja trama se passa em Florianópolis e foi publicado pela editora Brasiliense há poucas semanas. Quem conhece o mínimo de texto jornalístico e o de romances, sabe que o autor não é um escritor pura e simplesmente, mas, sim, um repórter que, a partir de agora, enveredou pelo mundo da ficção.

Afinal, só um jornalista tem olhos para identificar as sentenças perpetuadas no texto acima. Digo mais, só um repórter que - quantas vezes? - passou pela área descrita, lembraria de contar quantas camadas de asfalto estão na citada ponte. E, arrisco dizer, só a mente detalhista de um repórter teria a "sacada" de fazer uma alusão ao mercado opressivo imobiliário de uma capital turística.

Este repórter é o meu particular amigo Marco Antônio Zanfra, sabe-se lá o motivo, frequentador deste humilde blog. Ainda que de longe, acompanhei a gestação do livro e, por motivo de trabalho, não pude ir ao lançamento do mesmo. Fiquei em dívida com o Zanfra, pois eu mesmo estava na expectativa por ler a obra. Lembro de ter perguntado detalhes, queria saber do que se tratava mas ele, como não poderia deixar de ser, só desviou o assunto, guardando a surpresa. Ora! quer saber o que há num livro vá comprar para ler.

Hoje cumpri este ritual. Atrás de um presente para outra pessoa, lembrei de me presentear. Ali na livraria Catarinense do Calçadão da Felipe Schmidt, adquiri meu exemplar. A ansiedade no deslocamento até o Ticen só não era maior do que o calor insuportável de Florianópolis. E, no ônibus, passando pela ponte Colombo Salles, justamente ao lado da Pedro Ivo, já havia devorado os dois primeiros capítulos. Vai ser difícil manter o controle e não ler tudo de uma vez, pois a história pede isso.

É estranho ler o texto romanceado de um colega de quem sempre me acostumei a ler os textos jornalísticos. Mas o estilo Zanfra - uma autoridade em reportagem policial - está lá, ainda que disfarçado, na espreita como o detetive Marlowe (sim, alusão total e direta ao Maior de Todos os Detetives, Phillip Marlowe, cria do genial Raymond Chandler).

Antes de começar este post, me perguntava se há diferença entre escritor e jornalista. Sim, há. Várias. Mas isso pouco importa. Bobagem discutir isso. O que interessa é a qualidade do texto, quer seja romanceado, quer seja um relato da realidade. Melhor quando é possível unir características das duas escolas.

Eu, particularmente, prefiro a ficção. Da realidade já sei o que esperar. E me dá muito medo. Melhor ter medo de algo que não vai acontecer. Mas isso é tema para uma outra atualização deste blog.

Zanfra, meu amigo, muito obrigado pelo presente de Natal.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Retomada de curso

Quem acompanha a política catarinense sabe que, por umas 48 longas horas, a possibilidade de minha carreira profissional ser levada de volta para a Secretaria de Estado da Educação foi imensa. O susto passou e, Deus queira, o plano original está mantido para 2011: o rumo para trabalhar é Brasília. Morando ou não aqui na capital federal.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Trabalho

Brasília, 22h17. Sessão na Câmara Federal vai a todo vapor. Quem é que disse que deputados (e seus assessores) não trabalham?

Mundo pequeno

Semana rica em encontros e reencontros com antigos conhecidos, desde amigos até colegas, passando por rostos brevemente notados durante a maluquice de uma campanha política. Em Brasília desde o último sábado, já encontrei três amigos de faculdade (Lucio Lambranho, Diógenes Botelho e Jefferson Dalmoro), com quem trabalhei nas redações de O Estado e A Notícia, em Florianópolis.

Também conversei pessoalmente com o João Paulo, um colega gente finíssima que eu só tinha contato via Twitter (@didadiabrasilia). Ainda vi pelos corredores do Congresso pessoas que estavam na campanha eleitoral, em um momento ou outro, sei lá em quais cidades. D´alguns não recordo o nome, outros acabaram ficando mais próximos, como a colega Jaque Bassetto. O mundo, de fato, é muito pequeno.