segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Chandler para animar

Um pouco de Raymond Chandler para animar a tarde de domingo. "A Irmãzinha" (The Little Sister - 1949)

(...) Ela fechou a bolsa violentamente, com o dinheiro dentro.
- Não vou esquecer seus modos rudes - ela disse, entre os dentes. - Ninguém no mundo jamais falou comigo como você.

Fiquei de pé e caminhei casualmente até a ponta da mesa.
- Melhor não pensar muito nisso. Pode começar a gostar.
Avancei e tirei os óculos dela de um golpe só. Ela deu meio passo para trás, quase tropeçou, e eu pus um braço ao redor da sua cintura, por puro instinto. Seus olhos cesceram, ela pôs as mãos contra o meu peito e me empurrou. Eu já tinha sido empurrado com mais força por um gatinho.

- Sem o disfarce esses olhos são realmente algo - eu disse numa voz admirada.
Ela relaxou e deixou a cabeça cair para trás e os lábios entreabriram-se um pouco.
- Imagino que faça isso a todas as clientes - falou, macio.
As suas mãos agora estavam caídas junto ao corpo. A bolsa bateu contra a minha perna. Ela soltou o seu peso no meu braço. Se ela queria que eu a soltasse, os sinais que dava eram bem contraditórios.

- Só não queria que você perdesse o equilíbrio - falei.
- Eu sabia que você era do tipo atencioso.
Ela relaxou ainda mais. Sua cabeça se reclinou mais. Suas pálpebras caíram, tremelicaram um pouco, e seus lábios abriram-se. Neles se via aquele sorriso indefeso e provocativo que não precisa ser ensinado por ninguém.
- Imagino que pense que fiz de propósito - ela disse.
- Fez o quê de propósito?
- Tropecei, mais ou menos.
- Bem...

Ela pôs um braço rápido ao redor do meu pescoço e me puxou na sua direção. Então a beijei. Era isso ou dar um porre nela. Ela empurrou com força a boca contra a minha por um longo momento, e então, calma e muito confortavelmente, se imiscuiu entre os meus braços e se aninhou. Deixou escapar um suspiro longo e dócil.

Um comentário:

Marco Antonio Zanfra disse...

Chandler é um dos meus favoritos. Aliás, "As covas gêmeas" - meu primeiro livro, ainda sem data de lançamento, pela Editora Brasiliense - tem um quê de Chandler: além da "tentativa" de estilo, meu personagem principal chama-se Marlowe - uma homenagem descarada ao Philip Marlowe dele.