terça-feira, 29 de julho de 2008

Categoria desunida

Desde ontem circula oficialmente em caixas de e-mail privadas e nas das redações o sinal de que o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Santa Catarina está rachado. Se bem que o colega Cesar Valente já havia citado a tal ruptura em sua coluna do último sábado.

O primeiro texto chegou ontem na redação do jornal Notícias do Dia. O segundo, hoje. De um lado, um extenso grupo de colegas, muitos deles ex-integrantes do sindicato. Fazem acusações preocupantes contra a atual chapa que dirige o SJPSC (leia a íntegra da nota mais abaixo). Em outro, está a maior parte da direção, que se inscreveu para a reeleição. Trata-se de uma chapa única, que deve ser ratificada pelos colegas na eleição do dia 6 de agosto. É a primeira vez desde o fim dos anos 70 que a categoria se vê dividida na hora de escolher seus representantes.

Tenho amigos nos dois lados. Não sei quem tem razão, mas lamento profundamente que a situação tenha chegado a tal ponto. Penso que seria melhor uma segunda chapa do que este tipo de ato. Revela apenas que a categoria é, mesmo, desunida. E faço o mea culpa, sou o primeiro a não ir nas assembléias promovidas pela entidade. Não importam os motivos de cada um, mas é por estas e outras que os patrões pintam e bordam com nosso "piso" salarial e nossas condições de trabalho.

Posso - e prefiro - estar muito enganado. Mas não há como não ver a situação com olhos de repórter. De repórter que cobre política. Fica, prá mim, clara uma picuinha de origem político-partidária neste imbróglio todo. Boa parte dos que reclamam são e sempre foram alinhados ao PT. No outro lado, o atual vice-presidente sempre foi filiado ao PCdoB, sigla que, recentemente, recebeu a ficha de filiação do atual presidente do SJPSC. Como PT e PCdoB estão, depois de muitas eleições, oficialmente de relações rompidas em Florianópolis... bom, dois e dois são vinte e dois.

Este impasse precisa ser melhor esclarecido. Não dá é para a categoria ficar à mercê de e-mails de ataque e defesa. Era só o que nos faltava.


Um lado:

MANIFESTO DE ESCLARECIMENTO AOS JORNALISTAS DE SC

Sindicato forte é Sindicato de e para todos

A respeito das eleições para o Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina, que acontecem no dia 6 de agosto, os abaixo-assinados vêm a público fazer os seguintes esclarecimentos:

1. A chapa única que concorre ao SJSC não expressa a unidade que tentamos construir. Entendíamos que este processo deveria ser mais amplo e coroado com uma plenária estadual de definição da chapa. Entretanto, quem capitaneou a formação da atual chapa única para o SJSC sempre rejeitou tal proposta.

2. Mesmo assim, e como nosso objetivo, fraterno e sincero, era a construção democrática de uma chapa que expressasse a unidade do movimento dos Jornalistas em nosso estado, continuamos participando no esforço de construir uma alternativa unitária junto aos que lideraram a formação da atual chapa única. Na última plenária, realizada em Florianópolis, aceitamos indicar representantes para uma comissão que definiria a constituição da chapa entre aqueles colegas que haviam oferecido seus nomes nas plenárias.

3. Entretanto, esse processo foi bruscamente interrompido a poucos dias do prazo de inscrições de chapas, por intransigência dos que lideraram a formação da atual chapa na tal comissão. Eles não se contentaram em exigir a indicação à Presidência, Vice-Presidência e Tesouraria, o que, na prática, significaria o prosseguimento de uma única posição política a ditar os rumos cotidianos de nossa entidade. Também vetaram nomes e passaram a impor quem aceitariam ou não na chapa, desprezando as discussões anteriores e inviabilizando a construção de uma diretoria que expressasse a heterogeneidade e riqueza de visões presentes em nosso movimento.

4. Por isso, alertamos os colegas que, apesar do processo eleitoral do SJSC ter uma única chapa inscrita, ela não é expressão da construção democrática que defendíamos: verdadeiramente unitária, sem interesses político-partidários e posturas autoritárias, e representativa da diversidade da nossa categoria. Embora tenhamos razoável identidade programática com a chapa inscrita, ela foi montada com determinadas práticas e métodos com os quais não podemos conciliar.

5. Aproveitamos para esclarecer que tal chapa inclui vários valorosos companheiros, que optaram por apoiar a proposta daquele grupo, decisão que respeitamos, mas com a qual não podemos concordar.

6. Vamos prosseguir defendendo o fortalecimento de nossa entidade e de nossas lutas por dignidade e respeito profissional. Neste sentido, reafirmamos nosso compromisso de luta por melhores condições de trabalho e salários, fiscalização do exercício da profissão e respeito às relações trabalhistas, gestão sindical democrática e transparente com presença em todo o Estado, inserção no movimento sindical nacional da categoria e na política geral do país, defesa da regulamentação, formação, atualização e ética profissionais e da democratização da comunicação.

7. Finalmente, convidamos todos os nossos colegas a, mais do que nunca, participarem ativamente e fortalecerem o Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina. Afinal, movimento sindical não se faz apenas com a ocupação de cargos na direção de uma entidade, como já mostrou o movimento que, na década de 80, resgatou nossa entidade do imobilismo, do qual muitos de nós participamos. O Sindicato somos nós!

ASSINAM:

1. Adauri Antunes – Jornalista

2. Aderbal Filho – Ex-diretor do SJSC

3. Adriane Canan – Diretora do SJSC

4. Ayrton Kanitz – 1o candidato a presidente do SJSC pelo MOS e ex-integrante da Comissão Nacional de Ética

5. Aureo Moraes – Ex-diretor do SJSC

6. Celso Vicenzi – Ex-presidente do SJSC

7. Cláudia Sanz – Diretora do SJSC

8. Daniella Haendchen - Jornalista

9. Denise Christians – Jornalista

10. Doroti Port – Jornalista

11. Eduardo Marques – Repórter Fotográfico

12. Eduardo Meditsch – Ex-integrante da Comissão de Ética/SC

13. Elaine Borges – Integrante da Comissão de Ética/SC

14. Fernando Crócomo - Jornalista

15. Francisco Karam – Ex-integrante da Comissão de Ética/SC e da Comissão Nacional de Ética

16. Gastão Cassel – Ex-diretor do SJSC

17. Hermínio Nunes – Ex-diretor do SJSC

18. Ivan Giacomelli – Ex-diretor do SJSC

19. Laudelino José Sarda – Jornalista

20. Lena Obst – Jornalista

22. Luis Fernando Assunção – Ex-presidente do SJSC

23. Márcia Barentin da Costa – Ex-diretora do SJSC

24. Maria José Baldessar – Ex-diretora do SJSC

25. Mário Medaglia – Jornalista

26. Mário Xavier Antunes de Oliveira – Integrante da Comissão de Ética/SC

27. Mylene Margarida – Ex-diretora do SJSC

28. Orestes Araújo – Ex-diretor do SJSC

29. Osvaldo Nocetti – Repórter Fotográfico

30. Rogério Cristofoletti – Ex-vice-presidente do SJSC

31. Sandra Werle – Ex-diretora do SJSC

32. Samuel Pantoja Lima – Jornalista

33. Suely Aguiar - Jornalista

34. Sara Caprário – Jornalista

35. Silvio Pereira dos Santos - Jornalista

36. Suzete Antunes – Ex-diretora do SJSC

37. Tânia Machado – Jornalista

38. Terezinha Silva - Jornalista

39. Tina Braga – Ex-diretora do SJSC

40. Valci Zuculoto – Diretora do SJSC

41. Valdir Cachoeira – Ex-diretor do SJSC

42. Valentina Nunes – Jornalista

43. Vanessa Campos – Jornalista


Outro lado:
As eleições no Sindicato dos Jornalistas

Caros jornalistas,

Circulou pela rede um manifesto assinado por vários colegas que faz algumas críticas e acusações a respeito de como as coisas aconteceram no processo de construção de chapas para as eleições do Sindicato dos Jornalistas. Com relação aos fatos, cabe esclarecer:

1 – O processo de discussão foi democrático, com a realização de plenárias em todas as regiões do estado, nas quais os jornalistas deliberaram sobre propostas que, inclusive, fazem parte do programa da chapa que acabou se formando.

2 – Se o processo não avançou para uma chapa de consenso foi porque havia pensamentos divergentes e sentiu-se a necessidade de construir um grupo afinado com interesses comuns. Não existe obrigatoriedade para a existência de uma única chapa. É natural e legítimo que as pessoas se aglutinem em torno de propostas semelhantes. Foi o que aconteceu.

3 - É estranho que as pessoas que assinam o manifesto – muitas delas atuais diretores - tenham esperado estes dias pré-eleitorais para lançar estas denúncias. Por que não o fizeram antes?

5 - Não consideramos justo que estes elementos de denúncia tenham sido jogados ao vento desta forma e nesse momento, quando tudo poderia ter sido discutido às claras, democraticamente, como bem orienta a grande política.

6 – O que fica parecendo é que o valoroso grupo que ficou de fora da direção – por não ter conseguido formar uma chapa – está apenas querendo obscurecer o processo eleitoral, infelizmente no melhor estilo da pequena política.

7 – Da nossa parte, reiteramos a decisão de fazer parte da chapa que hoje disputa a eleição, porque compreendemos que há o firme compromisso de atuar no sindicato no sentido de defender os interesses da categoria, para além das disputas pessoais ou divergências políticas menores. E para isso aqui estamos, dispostos a trabalhar e lutar.

8 - Todas as informações e denúncias colocadas no manifesto, esperamos que sejam debatidas de forma franca e aberta ao longo dos próximos meses e nos fóruns da categoria, senão este manifesto divulgado agora perde todo o sentido.

9 – Por fim, mantemos a posição de seguir nosso trabalho e disputar as políticas sempre de forma aberta, libertária e generosa. Para isso, conclamamos aos colegas a participar do processo eleitoral, depositar seu voto de confiança em quem está disposto à luta, de fato, para que a nossa categoria possa lograr vitórias e permanecer unida. Toda a disputa de idéias precisa ser feita nos fóruns da categoria, de maneira livre e aberta. Assim podemos construir. Fora desse campo, é só vaidade!

Chapa 1 - Sindicato Forte Sindicato Presente

quinta-feira, 24 de julho de 2008

For those about to rock...

Sem motivo, lembrei de 1985...
Ok, talvez tenha sido pela notícia que o velho AC/DC está de volta e lança novo álbum - "Black Ice" - em outubro próximo. Tava mais do que na hora.

Tomara que a nova tour passe pelo Brasil. Só os vi na tour no "Ballbreaker", em Curitiba, no já distante 1996.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Soluções técnicas

O problema citado anteriormente está resolvido. Contei com a colaboração sempre precisa do colega Alexandre Gonçalves. Em menos de cinco minutos, ele "deu um banho". Esta é a diferença entre saber e tentar fazer. :)

Ficam aqui meus agradecimentos.

Problemas técnicos - Ou de peopleware?

Recebi uma dica hoje à tarde de uma leitora do blog. Ela me deu a idéia de incluir aqui aquela ferramenta de "Enviar esta postagem" para terceiros. Estou há meia hora reconfigurando tudo, mas quem diz que o ícone aparece? e que o sistema me obedece?

Das duas uma: ou este blog é prá lá de temperamental ou eu sou mesmo um péssimo blogueiro (existe esta palavra, afinal de contas?).

De qualquer modo, agradeço novamente a sugestão. Realmente, é bastante prático o modo de recomendar determinados posts para outras pessoas. Uma pena que aqui, pelo visto, vamos ficar devendo o serviço. :(

terça-feira, 15 de julho de 2008

O primeiro debate a gente nunca esquece

Cinco dias depois, finalmente vou comentar o primeiro debate dos candidatos a prefeito de Florianópolis. É, já está virando hábito: em plena era do imediatismo da Internet, os posts deste blog vêm sendo sempre criados com atraso. Desta vez foi a correria do jornal e uma viagem para Jundiaí, onde fui ver a "titular da pasta". O segundo motivo, claro, muito mais importante do que este comentário aqui.. mas, vamos ao que interessa...

Ao menos, eu não era o único estreiante em debates. Pelo menos três candidatos - Angela Albino (PC do B), César Souza Júnior (DEM) e Nildomar "Nildão" Freire (PT) - fizeram, na noite da última quinta-feira, seu debut ao vivo e a cores na tela da TV Barriga Verde. Isso, de certo modo, me deu uma falsa segurança de que não passaria vergonha sozinho. Preparei horas antes - com a consultoria da editora de Política do jornal Notícias do Dia, Ludmila Souza, e do colunista Paulo Alceu - três questões para cada um dos candidatos.

Cheguei na sede da emissora já sabendo que não contaria com a ajuda dos colegas vinculados ao grupo RBS. Sei lá os motivos, mas a empresa gaúcha não participa de debates que sejam promovidos por seus concorrentes. Uma pena. Todos saem perdendo: os veículos de comunicação, os partidos e, principalmente, os eleitores. Afinal, quanto mais opiniões diferentes, ainda mais em um tema como eleições, melhor.

Pode ser inocência de principiante, mas estranhei o fato de estarem lá somente as militâncias do PT e do PC do B. Será que PMDB e PP já se consideram no segundo turno? será que estes tradicionais partidos não estão com suas respectivas militâncias tão afinadas? De qualquer modo, se fosse para eleger um vitorioso no embate entre torcidas, meu voto iria para a do PC do B. Integrado por membros da União da Juventude Socialista (UJS), o grupo fez barulho o tempo todo. Festejaram com entusiasmo a chegada do candidato à vice-prefeito da chapa, Tico Lacerda (PDT). Era só um ensaio para a entrada da vereadora Angela Albino, minutos depois. A turma desceu até a entrada do estacionamento para buscá-la. Foi trazida até a porta do prédio cercada pelos militantes como se eleita já estivesse. "Ousa lutar, ousa vencer, Juventude com Angela no poder" era o grito de guerra, entoado em uníssono.

Fotos: Edu Cavalcanti

Transparência: sorteio de perguntas e ordem dos candidatos marcou o debate

De modo bem mais discreto, Afrânio Boppré (PSOL), Souza Júnior e Amin já estavam no interior da emissora. Nildão e o prefeito Dário Berger chegariam logo em seguida. No estúdio, mais tarde, preparativos finais e o primeiro duelo oficial teve início. Ironicamente, o primeiro (dos vários sorteios) definiu a ordem em que os concorrentes ficariam dispostos no cenário. Acabaram se sentando em ordem quase perfeita os representantes da esquerda e direita. O partido mais radical do grupo, PSOL, na extrema esquerda, com o PC do B (um radical moderado) ao seu lado, com o PT (praticamente uma esquerda de centro) em seguida. A linha continuava com o PP, DEM e PMDB. Entre estes, teoricamente, a ordem correta seria PMDB, PP e DEM, caso as ideologias políticas ainda existissem neste País.

Depois de uma longa e cansativa série de mensagens do dono da Barriga Verde e de representantes da Justiça Eleitoral, o bloco inicial foi marcado por questões gravadas da população aos candidatos. Boppré, por coincidência, sorteou a pergunta do seu irmão, Norton, presidente do Figueirense, que esperava o apoio dos inscritos ao pleito do clube em ser uma das sedes da próxima Copa do Mundo de futebol. Outro destaque veio com Nildão, que fez o primeiro dos vários ataques dos quais o atual prefeito seria alvo. O petista questionou o excesso de obras voltadas para avenidas e túneis. Souza Júnior, apesar de representar uma sigla da Tríplice Aliança, portanto parceira do PMDB, não perdoou Berger e lembrou do atraso na conclusão da Beira-Mar do Continente. Angela estocou o prefeito ao lembrar da saúde do município e Boppré voltou ao tema trânsito, tecendo um comentário mais duro quanto aos elevados construídos pela atual gestão.

No segundo bloco os candidatos fariam perguntas uns aos outros. Angela foi a primeira a lembrar da Operação Moeda Verde e Amin, apesar de questionar Boppré, acabou atacando Berger. O clima esquentou quando Boppré indagou o prefeito sobre a necessidade de abrir uma concorrência pública para o sistema de transporte coletivo da cidade. E Berger voltou a ser esmurrado quando Souza Júnior fez sua pergunta para Angela. Nervoso, o bode expiatório da noite chegou a pedir direito de resposta, que acabou não recebendo.

A quarta série marcou a entrada dos jornalistas no ringue. Eu estava ao lado de dois colegas da emissora e do professor Laudelino José Sardá, um dos ícones do jornalismo local. Garanto que eu só não estava mais nervoso do que o prefeito. Por sinal, ele pediu um segundo direito de resposta e, outra vez, não teve sucesso. Com outros sorteios, minhas questões foram para Souza Júnior, Nildão e Amin. O primeiro, disse que, para levantar mais fundos para os cofres públicos, pretende rever a atual estrutura de secretarias e autarquias. Mas negou que vá demitir funcionários. Não pude, pelo regulamento, questionar qual será a fórmula mágica para gerar economia sem fechar postos de trabalho.

O segundo foi político como sempre. Indaguei se, em uma eventual eleição, Amin não teria problemas ao coexistir com seu inimigo declarado, o governador Luiz Henrique da Silveira (PMDB). O ex-prefeito e ex-governador saiu pela tangente citando que crê em algo como trabalho conjunto pelo bem de todos. Então tá. Confesso que fiquei ligeiramente decepcionado com Nildão. Simplesmente não respondeu minha dúvida de como faria, caso eleito fosse, para comandar uma capital sem ter a maioria na Câmara dos Vereadores. Ele alegou que prefere aguardar o resultado das eleições. Mas não comprovou se terá chances de alcançar a maioria. Não terá.


Réplica: "mas candidato, o senhor não respondeu minha pergunta"

Para o quarto bloco, os candidatos responderam sobre temas de governo. E aí já se via claramente que dois deles ficariam com o título de vencedores do debate caso surgisse a necessidade de definir os melhores. Amin e Angela se saíram melhor do que os concorrentes. Ele usou e abusou da vasta experiência em campanhas. Ela usou e abusou do carisma e do raciocínio rápido para demonstrar preparo e conhecimento. Isso, creio, surpreendeu muita gente.

A série final foi marcada pelas mensagens de cada um dos políticos para os telespectadores. Neste ponto, achei Souza Júnior um tanto quanto vago, com um discurso cheio de lugares-comuns, apesar de ele ter amplo domínio ao falar para a câmara, fruto óbvio de seu trabalho como comunicador. Nildão tem potencial, mas se prendeu ao velho costume do PT em ficar exaltando o governo Lula. Ok, ele é o símbolo do partido, mas a eleição é municipal! Boppré mostrou um bom discurso, porém lhe falta carisma. E Berger? O prefeito não soube reagir às críticas. A impressão era de que ele levou tudo pelo lado pessoal. Acabou não conseguindo expor suas propostas, pois ficou na defensiva demais, mas sem poder de contra-atacar. Uma pena para ele e para a campanha.

De qualquer modo, foi só a rodada primeira. Outros debates virão, além da campanha na rádio e na televisão. Ainda não se pode indicar favoritos. É tudo muito prematuro. A única certeza é de que será uma campanha histórica.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

As eleições de 2008 e o samba do manézinho doido

Depois de muita espera o cenário das eleições em Florianópolis está praticamente fechado. O balanço que se pode fazer após as convenções é que não é possível apontar favoritos com total certeza. O pleito de 2008 é, certamente, o mais imprevisível da história da capital catarinense.

Tradicionalmente, a cidade sempre teve dois pólos, duas forças hegemônicas. O único resultado surpreendente foi a chegada da esquerda ao poder, com Sérgio Grando e Afrânio Boppré, entre 1993 e 1997. Há quem diga que a eleição deste ano será outra vez polarizada, entre o prefeito Dário Berger (PMDB) e Esperidião Amin (PP), cujos partidos são representantes das oligarquias que sempre controlaram o município.

O primeiro por ter a "máquina na mão" e o apoio do governador Luiz Henrique da Silveira, também do PMDB e rival eterno de Amin. O segundo, por sua história, pelas duas vezes que foi prefeito e outras duas que governou o Estado. É a liderança do momento contra um líder histórico. Mas concordo mais com aqueles que vêem nos chamados emergentes como um fator que pode jogar água na teoria da bipolaridade.

César Sousa Júnior, deputado estadual de primeiro mandato, pode até não ter experiência política ainda. Mas tem berço. Filho de um carismático ex-deputado e apresentador de TV, mantém um programa diário em uma rádio, age, como seu progenitor, para agradar diretamente às classes de menor poder aquisitivo. Puro assistencialismo, dizem os rivais. Não importa. Isso funciona na hora de ganhar votos.

Seu partido, o DEM, obviamente, aposta suas fichas na candidatura de César Júnior. Na convenção do último domingo o clima era de convenção nos Estados Unidos. Foi, de longe, a mais luxuosa de todas. Reflexo talvez, da viagem do senador Raimundo Colombo, líder da sigla em Santa Catarina, aos Estados Unidos, onde acompanhou eventos semelhantes dos Democratas de lá. Colombo retornou empolgado e impressionado com os discursos de Barack Obama e a estrutura das prévias.

Além disso, César Júnior tem Walter da Luz como vice. Um dos vereadores mais carismáticos da cidade, ele é do PSDB e os tucanos querem Florianópolis há tempos. Ainda mais que 2010 vem aí e quem ganhar a prefeitura da Capital tem uma vantagem a mais para as eleições ao governo estadual.

A esquerda alega que o nome dos democratas não é renovação, pois representa uma das legendas hegemônicas da direita. Este argumento, com toda a certeza, será repetido durante a campanha do petista Nildomar Freire, o Nildão, e de Angela Albino (PC do B). Estas duas candidaturas entram na briga cometendo um erro: não estarão unidos. A força que teriam se estivessem lado a lado, e trazendo PV e PDT, com quem coligaram, seria muito maior. O PT vai apostar no fato de, pela primeira vez, estar unido internamente. Todas as correntes do partido viram no ex-vereador Nildão o nome que nunca os consolidou até hoje. O PC do B, ainda uma sigla de poucas dimensões por aqui, terá no carisma, na inteligência e no bom desempenho de Angela Albino na Câmara (e nas pesquisas eleitorais) a grande chance de se firmar.

Com todo o respeito, o PSOL de Afrânio Boppré e o PTC de Elpídio Neves têm poucas chances de chegar ao segundo turno. Porém, serão de importância no segundo e decisivo turno. Agora, quem se arrisca a apontar quais candidatos vão para o embate final? Berger já fala até nas obras do PAC no Maciço do Morro da Cruz como uma conquista da sua gestão. "Mas o povo sabe quem é que liberou o PAC para Florianópolis", me disse a senadora Ideli Salvati no ato que, na última segunda-feira, selou a coligação do PT com o PV, sigla que mais cresceu em Florianópolis no ano passado e obteve uma expressiva votação na eleição anterior. A perspectiva de uma parceria ainda mais forte com o governo federal, é claro, vai ser um dos nortes no discurso de Nildão.

Enquanto isso, Angela Albino e o mesmo PT vão se pronunciar como a chance de renovação. César Júnior deve apostar no fator "juventude" e na presença dos tradicionais nomes do DEM: Colombo, Jorge e Paulinho Bornhausen, além de outros democratas que despontam no País, como Rodrigo Maia.

E depois da famigerada Operação Moeda Verde, não há um candidato que não fale em desenvolvimento sustentável. A começar pelo prefeito, que foi inicialmente acusado no escândalo e depois absolvido. Não por acaso, seu vice é João Batista Nunes (PR), idealizador do projeto do Defeso da Bacia do Itacorubi, que prevê a proibição de novas construções nos bairros da região até a conclusão do novo Plano Diretor.

É o samba do manezinho doido, não resta dúvida. Muitos elementos e possibilidades. A partir de agora, quando a campanha ganha corpo e vai às ruas, muitas outras variáveis vão se somar ao cenário. Creio que falar em favoritos com alguma chance de acertar só lá por meados de setembro.