sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Era só a crônica de uma morte anunciada

Terminou! Acabaram com o "AN Capital", suplemento publicado pelo jornal A Notícia há 12 anos e cinco meses. Hoje saiu a última edição. E a morte daquele que já foi o melhor JORNAL catarinense, superando até mesmo o próprio A Notícia, aconteceu em silêncio, com uma discreta nota na capa do caderno de hoje, praticamente um bilhete para aqueles que mais perdem com o seu desaparecimento: os leitores.

Talvez o caos que as chuvas dos últimos dias trouxeram tenha impedido uma saída de maior impacto. Talvez...

Criado em 1995, o "AN Capital" foi a tentativa do grupo que então controlava o jornal A Notícia, cuja sede fica em Joinville, de entrar no mercado de Florianópolis, naquela fase já totalmente dominado pelo Diário Catarinense, do grupo gaúcho RBS. A situação era tão inusitada que, por algum tempo, A Notícia deve ter sido o único jornal do mundo que saía encartado em um suplemento.

Grandes jornalistas passaram pela equipe durante estes anos. Todos fizeram o já saudoso ANC um jornal regional, combativo e, até onde os antigos donos permitiam, independente. Creio que muitos políticos vão comemorar o fim deste caderno.

Quando a RBS comprou o "A Notícia" da família Thomazzi, em 2006, todos os que tinham ligação com o mercado catarinense de comunicação já sabiam, ou ao menos desconfiavam, que era mera questão de tempo para o "AN Capital" ser fechado. Os novos proprietários levaram mais de um ano para tomar a decisão, mas ela veio. Simples assim. Alegando que não faz sentido manter a estrutura em Florianópolis por questões econômicas, dois representantes da empresa vieram ontem até a redação para nos avisar oficialmente.

Dos 18 funcionários que ainda trabalhavam diariamente na casa da rua Crispim Mira, 15 foram demitidos. No auge, a sucursal da Capital chegou a ter mais de 30 integrantes. É verdade que, após a compra, a RBS recolocou um número razoável de jornalistas em seus outros veículos (alguns migraram para a matriz do AN, em Joinville, outros para o Diário Catarinense e mais um para o Diário On-Line). Mas o clima entre os colegas obviamente era de tristeza. E ninguém lamentava o desemprego, mas pelo fim do jornal, que todos amavam, apesar de tudo, apesar das dificuldades enfrentadas com a eterna falta de estrutura e até um certo descaso por parte dos antigos proprietários.


Para sempre: Feito com dignidade até o último dia


Na capa da edição final, um singelo comunicado avisa sobre o fim e que o noticiário sobre Florianópolis "continua a ser publicado em uma página especial do caderno principal do jornal". Mas não há nenhuma menção às demais cidades da Grande Florianópolis, que o ANC sempre cobriu de um modo que nenhum outro fez até hoje. A cobertura, a partir da próxima segunda-feira, será feita por "uma equipe própria de jornalistas", conclui o comunicado. Só não avisaram aos leitores que dos oito repórteres, dois editores, dois fotógrafos, dois motoristas, uma diagramadora, além da recepcionista e da responsável pelo setor pessoal, que faziam isso na sucursal, a equipe terá somente três repórteres. O chargista Frank Maia e os colunistas Raul Sartori e Claudio Prisco Paraíso que não atuavam na sucursal mas eram, teoricamente, do ANC, serão mantidos no AN.

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Santa Catarina já divulgou uma nota de repúdio ao ato da RBS. Mas isso de nada adianta na prática. De um modo ou de outro, mais cedo ou mais tarde, talvez até no próprio grupo gaúcho, nós que ficamos sem emprego vamos nos recolocar. O prejuízo maior, sem dúvida alguma, é para os leitores, para a população. Mesmo discordando da mudança, pelo motivo acima e pela minha história na equipe do "AN Capital", na qual tive o prazer de trabalhar em duas oportunidades (em 2005 e nos dois últimos meses), entendo os motivos disso tudo. Apesar de ter o nome de jornal, tudo no mundo do jornalismo impresso (e em todas as outras áreas, é claro) é business. E business exige retorno financeiro, resultados, lucros. Se quem manda acredita que pode ter mais avanços com o fim de uma publicação, nada mais há para ser discutido. Creio que se fosse empresário, provavelmente eu faria o mesmo.

Três momentos marcaram a triste quinta-feira, dia 31 de janeiro de 2008. O primeiro foi quando Edson Rosa, último editor-chefe do caderno, agradeceu à equipe derradeira. Convidado pelo editor-chefe de A Notícia para fazer algum comentário, o popular Kiko não conseguiu expressar mais do que o agradecimento. Naquela hora, foi complicado não se render ao choro. Vieram à mente todos os colegas que por ali passaram e todas as histórias que vamos levar para sempre na memória. Kiko, por sinal, fez a primeira e a última edição.

O segundo marco foi a tristeza do Vilmar, o motorista que será sempre um dos símbolos do ANC e, provavelmente, a única unanimidade positiva em toda a história do caderno. Seu eterno bom humor e as inacabáveis brincadeiras que tanto alegraram a todos naquela velha casa (e nas três outras sedes que o jornal teve em Florianópolis) ontem não desapareceram. Vilmar, se sentindo traído pela empresa para a qual se dedicou por tantos anos, saiu sem se despedir de ninguém.

Mais tarde, na Kibelândia, tradicional bar onde os jornalistas da capital catarinense se reúnem, veio o tercerio momento. Os quatro últimos contratados para o "AN Capital" - que, obviamente, sabiam que haviam assinado um contrato de risco quando decidiram em novembro passado completar o time do ANC - tentaram afogar a decepção e a tristeza em algumas garrafas de cerveja. Quase na hora da "saidêra", Edson Rosa se uniu à nós. Desabafou um pouco, mas sempre tentando manter o bom humor. Lembrou de vários ex-companheiros e, acredito, se esforçou para evitar as lágrimas.

Mas a vida continua, com o perdão do chavão. Eu só não esperava "emplacar" a derradeira manchete do "AN Capital".

Como é impossível reunir todos em uma foto, cito os vários colegas que fizeram o AN Capital. Incluo na lista aqueles com quem trabalhei direta e indiretamente. É claro que há vários outros, alguns que a memória me trai no momento e outros que nem cheguei a conhecer, além da turma do extinto departamento comercial, telemarketing e do setor administrativo.

Ainá Vietro
Alexandre Lenzi
Aline Felkl
Ana Cláudia Menezes
Ana Paula Lückman
André Gassen
André Lückman
Angelo Medeiros
Ayrton Cruz
Cao Carvalho
Carla Pessoto
Carla Kempinski
Carlito Costa
Celso Martins
Claudine Nunes
Cléia Schmitz
Clodoaldo Volpato
Cristiane Fontinha
Cristiane Serpa
Cristiano Vogel
Daniel Cardoso
Dariene Pasternak
Deluana Buss
Diogo Vargas
Dirce
Edson Rosa
Fabiana de Liz
Fábio Gadotti
Felipe Silva
Fred
Gisa Frantz
Gustavo Cabral
Luiz Christiano
James Tavares
Jeferson Cioatto
Jeferson "Fifo" Lima
Josi Castro
Julio Castro
Lara Viviane
Lucia
Lucia Helena Vieira
Lucio Baggio
Lucio Lambranho
Luis Fernando Assunção
Luis Henrique "Governador" Silveira
Mariella Lopes
Marco Zanfra
Maurício Oliveira
Mauro Geres
Mayco
Natália Viana
Néri Pedroso
Osvaldo "Coca" Nocetti
Patricia Peron
Paulo Jorge "PJ" Marques
Paulo "PDT" de Tarso
Rosane Felthaus
Régis Mallmann
Ricardo Mega
Sílvia Pinter
Upiara Boschi
Valéria Lages
Valmir "Lagoa"
Vilmar

4 comentários:

Marco Antonio Zanfra disse...

Embora você não tenha me colocado na lista, também sou um dos órfãos do "AN capital": fui repórter de polícia de agosto de 1999 a abril de 2002, substituindo Sílvia Pinter e sendo substituído pela Natália e depois pela Fabica. Também estou me sentindo "sem pai nem mãe nem vizinho", como disse ao Cao hoje cedo, apesar de todos sabermos do destino da sucursal. Resta que o Petrelli tenha "a visão", resolva abocanhar a fatia do "AN capital" e recontrate todo mundo para abrilhantar o "Notícias do Dia". O que não pode é deixar o "DC" como única opção.

Bonassoli disse...

Zanfra,

você, certamente, será o primeiro a requerer uma vaga na lista. Eu, com certeza, esqueci de mais gente. O amigo é um dos que atuou lá no período em que eu estava na Folha de S.Paulo. Por isso, a falta de memória.

Felipe Silva disse...

O AN Capital fazia a melhor cobertura da Grande Florianópolis, com certeza, apesar de sempre ter aquele estigma de "o jornal de Joinville" (teve até uma história engraçada de um telefonema que atendi com um cara que queria sugerir uma pauta de futebol amador, achou que tinha ligando pro Notícias do Dia, e terminou a ligação me dizendo mais ou menos que "essa aí tá só com vocês. Eu ia dar essa sugestão pro A Notícia também, mas, ah, eles são de Joinville". Fui obrigado a desligar e rir).

Imagino a tristeza de colegas com quem tive o imenso prazer de trabalhar por um ano e meio (junho/2006-dezembro/2007) no meu primeiro emprego depois de formado e que, além de grandes jornalistas, eram pessoas fantásticas. Alguns eram a história viva do ANC, como o Vilmar, o Edson e o Coca, que saiu bem antes do triste fim. É uma grande perda para o jornalismo e a sociedade catarinenses.

Sucesso pra ti e pros outros ex-colegas. Um abraço.

Felipe

Felipe Silva disse...
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