domingo, 16 de maio de 2010

Dio eterno

Volto a atualizar este blog em um dos dias mais tristes da minha vida. Ronnie James Dio um dos músicos mais admiráveis da história, uma lenda do rock morreu nesta manhã, vítima de um câncer de estômago.

Cantor do ELF, Rainbow e Black Sabbath, além de sua vitoriosa carreira solo, Dio era um rockstar gente finíssima. Nada de escândalos, bebedeiras, bizarrices ou envolvimento com drogas. Quem o conheceu - eu tive a honra de entrevistá-lo em um dos dias mais felizes destes meus 37 anos de existência - sabe que era um gentleman. Sempre atendeu aos fãs e aos jornalistas com muito respeito, carisma, educação e bom humor.



A última apresentação dele que pude ver ao vivo foi no dia 5 de dezembro de 2001, no Credicard Hall, em São Paulo. Passei uns 15 dias, pelo menos, lamentando para meu amigo David Torelli - quando ainda trabalhávamos na Century Media - que minha música preferida jamais seria tocada pelo mestre Dio. Na noite do show, eis que o dono de uma das vozes mais poderosas deste planeta anunciou: "Invisible". Quase caí das cadeiras superiores do Credicard Hall. E quem conhece tal casa de espetáculos sabe quão alto é isso.



Há algumas semanas, ou seriam meses?, quando a notícia de que Dio estava encrentando um câncer começou a se multiplicar na Internet eu pensei que isso não era nada. Um homem como ele não morre, imaginei. Doenças deste tipo são reservadas aos seres humanos comuns, afinal de contas. Como é que um cidadão vive 67 anos, mais de 50 deles dedicados à música, ao rock, ao heavy metal, com amplo sucesso, fãs ao redor do mundo todo, pode perecer de algo tão bobo quanto um câncer?

Mas a realidade é cruel. A vida continua, o mundo gira e rockstars, ídolos, astros, são tão humanos quanto todos nós no final das contas.

Não lembro a data exata em que ouvi a voz única de Ronnie Dio. Mas certamente foi em 1983, ano em que minha vida mudou, logo após eu descobrir o Kiss. E então chegou nas minhas mãos uma fita k-7 do Iron Maiden, um LP do Black Sabatth (ainda com Ozzy nos vocais), outro do Accept. Até que um dia me explicaram que o Ozzy enlouqueceu, brigou com Tony Iommi e montou uma banda própria. Para o seu lugar, entrou um baixinho que inventou o sinal dos "chifrinhos" que representava o heavy metal. Ele era americano, mas tinha um sobrenome italiano. Ao escutar "Holy Diver", o álbum com aquela enigmática capa, tive uma sensação mágica que só sentiria ao ouvir outras peças magníficas, como "Operation: Mindcrime" (Queensrÿche), "Master of Puppets" (Metallica), "Século XX" (Overdose), "Hall of the Mountain King" (Savatage), "Killers" (Iron Maiden), "W.A.S.P." (W.A.S.P.), "Abigail" (Kind Diamond), "Reign In Blood" (Slayer), "Creatures of the Night" (Kiss), "Balls To The Wall" (Accept) e "Schizophrenia" (Sepultura), não necessariamente nesta ordem.



A vida é estranha. Cresci sonhando em assistir ao vivo tantos ídolos da minha adolescência. Mas isso era em uma época em que shows internacionais no Brasil eram uma raridade. Ainda mais de bandas que tocam rock pesado. Não havia Internet, telefone celular, fotografia digital, computadores eram coisas de filme americano. Mas o progresso, lentamente, chegou ao Brasil. O País começou a deixar de ser arcaico e, aos poucos, mais e mais ídolos vinham até nós. E um belo dia anunciaram que Dio iria tocar em Florianópolis. Na verdade, em Santo Amaro da Imperatriz. Era dezembro de 1995, mais precisamente no dia 1º, quando eu estava no Hotel Cambirela, ao lado de alguns outros fãs, para entrevistar o mestre!

Foi um dia mágico. Dio entrou na sala e mostrou-se a gentileza em pessoa, a alegria e a felicidade de conversar conosco, a quem instistiu em chamar de amigos, eram nítidas. Usei meu ainda parco conhecimento no inglês e fiz várias perguntas. Ele brincou comigo quando questionei sobre o Black Sabbath. O diálogo foi mais ou menos assim:

"I hope this isn´t a forbidden subject", comecei. "No, go ahead, ask, my friend", ele respondeu. "About Black Sabbath...", indaguei. "No, i don´t speak about this", afirmou Dio, já rindo com a minha cara, obviamente, patética e decepcionada. "I´m kidding. Of course i´ll answer to you", ele continuou.

Ao final da entrevista, todos receberam seus autógrafos com a tradicional frase "A magic to..." que ele sempre assinou para seus fãs. Naquela tarde, meu velho vinil do "Holy Diver" voltou para casa com a frase "A special magic to Alessandro", como pode ser visto neste link. E esta é uma história que não me canso de contar. É bobo, eu sei. Infantil muito provavelmente. Mas é real.

O setlist tocado na noite de 2 de dezembro de 1995 naquele antológico show na New Time, uma danceteria do vizinho município de Santo Amaro da Imperatriz, foi mais ou menos assim:

* Intro (someone scanning through radio stations)
* Stand Up And Shout
* Strange Highways
* Don't Talk To Strangers *
* Evilution
* Pain
* Guitar Solo
* Pain
* Mob Rules *
* Children Of The Sea *
* Holy Diver
* Heaven And Hell *
* Man On The Silver Mountain **
* Drum Solo
* Heaven And Hell *
* Jesus Mary & The Holy Ghost
* Hollywood Black
* The Last In Line
* Rainbow In The Dark (encore)
* We Rock (encore)
* Here's To You (encore)
* Da sua passagem pelo Black Sabbath
** Da sua passagem pelo Rainbow



Hoje, lamentavelmente, Dio passou, seguiu em frente em sua trajetória. Deixou, felizmente, sua arte, sua música, sua mágica. Não teremos mais o prazer de vê-lo ao vivo, mas estará sempre vivo.

4 comentários:

Fer Fer Fer disse...

po, invisible tb sempre foi uma das minhas preferidas. O setlist que eu vi foi meio nada a ver. Lembro que tocaram all the fools sailed away, e todo mundo ficou meio "wtf?". Mas mesmo assim foram duas horas de bastante diversao, acho que é dificil o Dio ter feito algum show ruim na vida dele.

Unknown disse...

Muito boa a coluna, vou falar a verdade, não frequento seu blog (hehe) mas como é uma homenagem ao mito que infelizmente não deixou, não pude deixar de ler.
Infelizmente eu só tive o prazer de ve-lo ao vivo uma vez, em turne com o heaven and hell, e só de pensar que nunca mais verei o meu idolo ao vivo é realmente muito triste.

Marcel disse...

Muito bom lembrar disso! Obrigado pelo post.
Achei um outro site com esse mesmo set list, mas eu tenho certeza que ele fechou a encore com Neon Knights, minha música preferida. Então ou ele adicionou essa ou substituiu uma outra.
Coloquei o setlist no Setlist.fm, com um link para o seu blog como fonte:
http://www.setlist.fm/setlist/dio/1995/new-time-santo-amaro-da-imperatriz-brazil-73da8e71.html

Coleção de LPs disse...

Linda postagem e lembranças. Parabéns. Minha preferida da carreira solo dele também é Invisible. E também assisti ao show na New Time. Que momento único.