A primeira vez que ouvi Guns´N´Roses foi em 1987. Isso me lembra que:
a) estou ficando velho
b) a banda era uma ilustre desconhecida
A curiosidade por conhecer o tal grupo veio após a leitura de uma matéria sobre o grupo de Los Angeles na revista Rock Brigade (ou seria na extinta Metal?). Me agradou o texto, que citava Led Zeppelin e Aerosmith como principais influências daqueles caras com visual extravagante e desnecessário. E eu já pensava assim por ser fã da simplicidade do jeans surrado e camiseta difundido pelos meus ídolos do thrash metal, como Metallica, Testament e Megadeth. Mas o Guns era um grupo de rock and roll e nada mais rock and roll do que aquele ar "doidão de shopping center".
Curiosamente, mesmo sem a existência de YouTube, MySpace, internet e CD, logo chegou às minhas mãos uma fitinha K7 com parte do álbum "Apettite For Destruction". Ficou claro que seria mera questão de tempo para que "Sweet Child O´Mine" fosse parar nas rádios. E me agradou o fato de um grupo que estaria muito mais para o glam metal do Mötley Crüe do que para o peso do Slayer soar tão pesado. "Rocket Queen" e "It´s So Easy" tornaram-se de imediato favoritas aqui em casa.
E aí o tempo passou quase que imediatamente. Eles estouraram, abriram portas para o rock pesado, garantiram o último respiro na cena mainstream antes da praga grunge, ganharam milhões, menininhas tiveram orgasmos solitários por causa dos agudos gritos de W. Axl Rose e suas insuportáveis reboladas, a modernidade se instalou de vez e tudo acabou. O líder do grupo se provou mais um artista megalomaníaco e os bons músicos que o acompanhavam saltaram fora. A banda caiu no ostracismo e virou motivo de piada. Tudo por causa de "Chinese Democracy", seu futuro novo álbum que parecia ser meramente uma mentira.
No hiato desde 1993, quando "The Spaghetti Incident?" chegou as lojas, o tal novo trabalho se transformou em uma promessa de bêbado. Mas, eis que agora, em 2008, a promessa virou realidade. Algumas faixas haviam sido apresentadas na terceira edição do Rock In Rio, outras vazaram na internet. A versão oficial está à venda a partir de hoje. Ouço agora "Chinese Democracy" no MySpace da banda e entendo o motivo pela óbvia falta de unanimidade sobre as 14 faixas. Um exemplo é a crítica favorável da Rolling Stone original e a malhação imposta pela versão brasileira da revista.
É um bom disco de rock. Ponto. Não chega sequer perto de "Apettite For Destruction", "G´N´R Lies" ou "Use Your Illusions I" e "Use Your Illusions II". Mas tem qualidade. E, claro, não é o Guns´N´Roses propriamente dito, mas um grupo com o vocalista da banda. Também não poderia se esperar que Axl Rose gravasse músicas que fossem meras cópias do que ele compôs com seus velhos parceiros. As características estão lá, as baladas orquestradas também, é claro. As influências de Led e Aerosmith idem. Mas os tempos são outros, a década é outra e determinados artistas tendem a tentar acompanhar as transições da cultura, do mundo, da humanidade. Ainda bem que AC/DC e Motörhead não fazem isso.
Irrita um tanto o flerte do Guns atual com as modernidades, com arranjos puramente eletrônicos. Mas não é nada assim tão detestável. O importante é ouvir antes de comentar. Agora, se Axl não fosse tão babaca quanto é, teria evitado toda esta propaganda negativa, se não fosse adepto da "democracia" chinesa, teria feito concessões, não seria um ditador da banda que tomou para si. O cara gastou milhões de dólares para gravar um disco bom, mas mediano. E tanta gente passando fome...
Não duvido que, se ele quiser ir para a estrada, os shows vão lotar e ele vai faturar. Eu espero ver Axl e seus contratados tocando "It´s so Easy" e "Rocket Queen". Muitos coleguinhas da imprensa estão torcendo o nariz para "Chinese Democracy". Só lamento. Mas isso é democracia.
Um comentário:
O disco seria ótimo se tivesse sido composto e lançado em 96, 97... Como demorou 15 anos para ser feito, ficou aquele gosto de "tanto tempo para isso?"
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